sábado, 26 de julho de 2008

À Renata, de quem me lembrei hoje

Gosto muito de tartarugas. Sempre gostei. Não sei bem porquê. Acho-as fortes e bonitas. Ao mesmo tempo, estão sempre meio espantadas com tudo, o que, digo eu, é um bom princípio. Uma vez tive uma, chamava-se renata, comia perú à mão, abria as portas da varanda que são pesadas, de madeira. Era uma tartaruga destemida. Comprei-a numas férias, em Sesimbra, a um velho do mar, que ainda existe e que está, comprovei o ano passado, igual. Era grande, tinha uma casca linda, bem torneada, era uma tartaruga jeitosa, diga-se. Tinha um lago com uma pedra grande, mas sempre gostou mais de estar a passear-se pela casa, de pescoço de fora. Cumpria o ritual do adormecimento, religiosamente. Era uma tartaruga-bela e pontualmente, adormecida. Uns meses depois, acordava, como se nada fosse, cheia de força. Senti-a muito alegre. Uma vez, ouvi num filme, que as tartarugas estão sempre felizes, a boca, está sempre a sorrir. E é verdade. Também me contaram, que elas quando morrem, evaporam. Um dia, a renata desapareceu. Chorei muito, chorei muito durante anos, por ela. Ficou sempre o mistério, como sobre todas as coisas. Era uma tartaruga mágica, especial. Hoje, senti umas saudades profundas do espaço que ela ocupava no meu coração e na minha vida.

Esta semana, estou decidida a sonhar todos os dias com tartarugas.

6 comentários:

Anónimo disse...

Penso que foi exactamente por ela, por ter conhecido a bela renata, que trepava pelas minhas pernas e me fazia rir, que me apaixonei por esse animal inteligente que é a tartaruga.
Já tive umas mas das pequeninas, bem diferentes da renatinha, grande e majestosa...não quero mais nenhuma, entristece-me pensar que posso perdê-la.
Um grande beijo onírico à renata.

Anónimo disse...

: ) Obrigada. Ela também gostava de ti. Essas coisas, sentem-se. Uma vez, fizemos-lhe uma malandrice, lembras-te? Mas acho que ela não ficou tonta..

Catarina Barros disse...

Eu também tive uma, das pequeninas. desapareceu uma tarde inteira mas acabámos por encontrá-la escondida debaixo da vassoura, coberta de cotão, aterrorizada (provavelmente terá jogado à rabia com os dois cães e o gato que por cá viviam na mesma altura). Um dia resolvi dá-la e há poucas coisas de que me arrependa tanto. A memória do meu gesto - o dar - tortura-me.

Anónimo disse...

: ) não sabia essa, de já teres tido uma ninja. Que pena..a tartaruga é um animal marcante. Nunca percebi bem a origem desta força, mas na verdade, sempre senti que trazem memórias dentro delas. É o segredo daquela casca deliciosa.

Anónimo disse...

Elas são tão engraçadas...lembro-me de uma, a quem dei o nome de micas, que adorava ouvir musica. De cada vez que punha a rádio a tocar ela esticava o pescocito e ficava à escuta, atenta. E acontecia o mesmo quando ouvia a minha voz, ficava a olhar para mim com aqueles olhos meigos...será que me percebia? Ás vezes penso que sim...

Gillette disse...

Ainda ontem falávamos de tartarugas. Eu tive uma na altura em que estavam na moda, justamente por causa das lutadoras Ninja. A minha chamava-se Leonardo (Leonarda? Quem sabe...), mas eu era tão pequena que nem me lembro se gostava dela e se pensava nela. A verdade é que não me tenho lembrado do Leonardo ao longo do tempo, mas recordo-me de achar piada aos camarões que ele comia e que eu tanto cheirava.
Morreu. Porquê e quando? Não me lembro.