A palavra clã puxou-me sempre.
Esqueci-me dela durante algum tempo. Em casa, havia um livro de ficção científica, chamado "o clã azul", tinha uma capa estranha, um casal vestido de astronauta em cima da lua. Olhava para aquilo e na verdade, sentia, mesmo sem saber o que significava "ficção" e "científica" e muito menos, o que seria, uma definição das duas palavras juntas, que era qualquer coisa impossível. As crianças percebem o que é mentira, muito cedo. Ao mesmo tempo, acho que sentia que o que o "clã" simbolizava ali de falso, tinha na mesma proporção, algo de aconchegante. Nunca me esqueci do livro, passava a vida a olhar para ele. Aproveitei, para me convencer. Entretanto, hoje, numa manhã entre livros, atrevem-se eles, a cantar isto.
Às vezes o nosso amor adora morrer
P´ra voltar e voltar a correr
Às vezes o nosso amor evapora, ora
Parece que o ar do lar o devora
Às vezes o nosso amor tropeça só
Para que o chão lhe peça – “levanta-te depressa”
Às vezes o nosso amor adora sangrar
P´ra esvair e voltar a estancar
Às vezes o nosso amor adora lamber
A cicatriz que insiste em conceber
Às vezes o nosso amor desflora só
Para que o céu lhe peça – “Benze-te depressa”
Às vezes o nosso amor acalora
Para que a água estale a pele a ferver
Às vezes o nosso amor decora, ora
Parece que o ar do lar o estupora
Às vezes o nosso amor descola só
Para que peça a peça se junte numa peça
O nosso amor adora suster
O ar que inspira e sorve só p’ra verter
Às vezes o nosso amor demora a crescer
Parece que tem medo de não caber, de não caber
Clã
Para que peça a peça se junte numa peça
O nosso amor adora suster
O ar que inspira e sorve só p’ra verter
Às vezes o nosso amor demora a crescer
Parece que tem medo de não caber, de não caber
Clã
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