
Bêbeda sobre as coisas. É a única sensação que, sendo vazia, dá para sentir. Na verdade, não chega a ser uma tristeza concentrada em ninguém. Alastra, sem tocar. Sobre "os alguém", sou capaz de sorrir e podia até, inverter as situações, em benefício extremo do meu ego, o que seria de facto a forma mais inteligente, de pensar sobre elas.
O meu ego, ficaria estonteante, bêbado de prazer. Um ego pornográfico.
Sem associações a nenhum personagem, a nenhuma passagem, vem-me surgindo como cúmulo da satisfação, sentar-me em cima de um muro e cruzar as minhas pernas sobre outras pernas. Sem conversas, sem deslumbramentos cerebrais, sem cumplicidades, sem afinidades, sem impulsos. Uma coisa, sem história nenhuma. Um começo. Um começo puro, imaculado, limpo. Um começo, só por me ver passar na rua. Esperar por mim. Um começo como o do velho, que atravessa uma estrada direita, para visitar o irmão doente, que não vê há anos ou que nunca conheceu. Tenho sentido isto. Um estar com, isolado de tudo, de todos os contextos, de todas as pessoas.
Claro está, "cruzar as pernas" pressupõe um corpo, mas a culpa, é da gramática, não é da vida. A única coisa que me assombra, é o cenário. Não sei até que ponto, importará muito, saber de quem são as pernas. O hábito, também deve edificar este tipo de acontecimentos, não?
Acho que nunca foi tão real, reduzir as minhas ambições, a isto.
Não tendo servido de grande coisa, castrar o ego, das delicias do "eu", serviu esta dissertação de liceu, para fazer as pazes com Paris, isto porque, a primeira imagem que tive, há uma semana, de mim, sentada num muro, não sei como, mas foi nas margens dele. Do rio dela.
Vou perdoar uma cidade, e pensar que um dia, nos entenderemos, porque apesar de tudo, somos iguais e desta vez, desejei-a.
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