A Cidade do Sol
Temo esse tempo porque o meu não é assim.
B.
B.
Paris é, para mim, acima de todos os elogios que lhe possam ser feitos, uma criança de cinco anos com um tutu cor-de-rosa a ver-se ao espelho.
É um outro tempo.
É o espaço ainda por planear. A véspera.
É o amor impossível.
A tragédia.
A gravidez.
A provocação.
O fracasso.
É um outro tempo.
É o espaço ainda por planear. A véspera.
É o amor impossível.
A tragédia.
A gravidez.
A provocação.
O fracasso.
Fui sempre, assumidamente, da cidade. Gosto de estradas, de prédios, do que a cidade representa, dos medos que habitam a cidade, e de pensar no que nos é permitido ser, nela. Por mais voltas que dê à cabeça, não consigo perceber, como é que aconteci em Paris, para não a ter ficado a amar.
Primeiro pensamento: detesto isto. Como é possível estar a odiar Paris? Pensei: devo ter entrado mal na cidade. O pior, é que não vou voltar a entrar pela primeira vez em Paris, se nela voltar a entrar algum dia, vai ser sempre a mesma entrada, a que fiz agora. Vou lembrar-me sempre.
A forma como se entra na cidade, determina o olhar sobre ela. Paris é bela para conversar pelas ruas, para a paixão. Só.
Estar num espaço onde não se tem nenhum objecto de afecto é absolutamente assustador. Lá, estive só, em relação com a cidade. Como esperava. Ninguém se movia, em nenhum beco daquela cidade, por quem sentisse amor. Ninguém, nenhum animal, nenhuma rua, nenhum café, nenhuma memória, lado nenhum tinha o meu reflexo.
Esta não é a minha cidade. Não estou lá. Acima de toda a beleza, eu e Paris, definitivamente, não olhamos para o mesmo céu.
É tudo demasiado suave, indefinido, incerto, Paris é a cidade em suspenso, aquela que está sempre a criar-se, a amante que nunca se assumirá, belíssima, iluminada. Mas a minha cidade, não é assim.
Escolher uma cidade, é também confessarmos coisas. Eu gosto do arranha-céus, do betão, da violência que é não conseguir ver o céu, mas saber que ele existe. A solidão de uma cidade que engole, que nos anula, é diferente da solidão que se pode sentir em Paris. Aqui, há demasiados espaços descobertos, tudo está dado, nada se esconde, é assustador. Uma cidade que diz: estou aqui, eis o que eu tenho. Anula quando se mostra. Dá-se tanto e de uma forma tão declaradamente óbvia, que ofende, que magoa. Está tão cheia de si, que cega.
Estar num espaço onde não se tem nenhum objecto de afecto é absolutamente assustador. Lá, estive só, em relação com a cidade. Como esperava. Ninguém se movia, em nenhum beco daquela cidade, por quem sentisse amor. Ninguém, nenhum animal, nenhuma rua, nenhum café, nenhuma memória, lado nenhum tinha o meu reflexo.
Esta não é a minha cidade. Não estou lá. Acima de toda a beleza, eu e Paris, definitivamente, não olhamos para o mesmo céu.
É tudo demasiado suave, indefinido, incerto, Paris é a cidade em suspenso, aquela que está sempre a criar-se, a amante que nunca se assumirá, belíssima, iluminada. Mas a minha cidade, não é assim.
Escolher uma cidade, é também confessarmos coisas. Eu gosto do arranha-céus, do betão, da violência que é não conseguir ver o céu, mas saber que ele existe. A solidão de uma cidade que engole, que nos anula, é diferente da solidão que se pode sentir em Paris. Aqui, há demasiados espaços descobertos, tudo está dado, nada se esconde, é assustador. Uma cidade que diz: estou aqui, eis o que eu tenho. Anula quando se mostra. Dá-se tanto e de uma forma tão declaradamente óbvia, que ofende, que magoa. Está tão cheia de si, que cega.
Vou desculpar Paris, pelo que Paris não foi para mim, pensando que é preciso olhar para dentro das casas, para as esquinas, que é preciso viver qualquer coisa em Paris, com alguém, com alguns, para conseguir olhar para ela e percebê-la. É para ser vivida ou sonhada. Não há possibilidade para planos intermédios.
Vamos vendo sempre o que vem a seguir, é possível avistar coisas, prever, não ir por aquele lado, contornar para chegar mais depressa, ou demorar mais. E está assim, à vista, com o céu todo a dar-se, também. Pode ser uma cidade perfeita, inatingível, nada parece ser suficientemente profundo para a possuir, por isso vai sendo sozinha e única.
Senti medo. Começo a ter medos. O outro dia, diziam-me: não eras assim, andas cheia de medos. Na verdade, já tinha percebido.
Vamos vendo sempre o que vem a seguir, é possível avistar coisas, prever, não ir por aquele lado, contornar para chegar mais depressa, ou demorar mais. E está assim, à vista, com o céu todo a dar-se, também. Pode ser uma cidade perfeita, inatingível, nada parece ser suficientemente profundo para a possuir, por isso vai sendo sozinha e única.
Senti medo. Começo a ter medos. O outro dia, diziam-me: não eras assim, andas cheia de medos. Na verdade, já tinha percebido.
O medo, pelo medo. Só. Eu, que também sou uma cidade.
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