quarta-feira, 11 de junho de 2008
Educação Sentimental
Poemas com Putas
Ontem morreu a puta mais velha da vila.
Tinha cabelos brancos,
um dente de ouro
e uma foto adolescente.
Nunca reclamou do tempo, do governo e do preço das coisas.
Mas, desconfio, tinha desertos dentro de si.
Foi vista um dia
Olhando uma nuvem.
Gostava de um vestido vermelho que nem lhe servia mais.
(...)
Morreu velha essa puta na vila.
Sem saber a idade ao certo mas dos setenta chegou perto.
Morreu numa tarde anónima com criança olhando incêndio e cachorro magro passeando na vila.
Tarde comum com tédio de vestido vermelho e de varal de vila.
O mesmo tédio de que é feita a fúria da primavera e a esperança das putas.
Marçal Aquino (poeta brasileiro)
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1 comentário:
Não me parece que essa tivesse sido melancólica, mas certamente que foi vampira. Triste, não sei. Talvez usasse sempre um vestido vermelho.
O J.P. Simões é que diz
«pinto o cabelo
rio-me ao espelho
ponho o vestido vermelho».
(Talvez o Gabriel ainda venha a escrever o livro «Memória das Minhas Vampiras Melancólicas».)
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