Entre tantas ruas
que passam no mundo,
a Rua do Olhar,
em Paris,
me toca.
B.
A verdade, é que não me apetece muito viajar, o que é preocupante. Tenho pensado nisso. Não é o medo-claustrofóbico dos pirinéus (que existe) mas Paris, neste momento, tenho a certeza que não vai ser uma provocação à minha melancolia, porque vai estar ao mesmo nível que eu. Não vai haver choque, não vai haver distância, vamos ser as duas, vou ser uma cidade, não vou ser eu na cidade. Tenho a certeza, porque conheço bem Paris, sem nunca lá ter estado. E porque me conheço bem a mim. Não sei, custa-me dedicar-me à cidade. K. disse sobre os livros, o mesmo que sinto, sobre as cidades: Acho que só devemos ler a espécie de livros que nos ferem e trespassam. Se o livro que estamos a ler não nos acorda com uma pancada na cabeça, por que razão o estamos a ler? (...) Nós precisamos de livros que nos afectam como um desastre, que nos magoam profundamente, como a morte de alguém a quem amávamos mais do que a nós mesmos, como ser banido para uma floresta longe de todos. Um livro tem que ser como um machado para quebrar o mar de gelo que há dentro de nós. É nisso que eu creio.
É nisso que eu acredito, também. Para as pessoas, assim como para as cidades.
A ver vamos.
1 comentário:
Escrita e livros são sofrimento. São facas atravessadas em vidas secretas (aproveitando a expressão de alguém).
A cidade é sempre a cidade, apesar de nós. Desde há muito que «a» vejo como uma mulher e cada uma terá a sua personalidade, a sua voz, o seu toque (suave ou não). O seu cheiro. Julgo que esta perspectiva seria mais interessante para um homem, mas é a que tenho.
Para mim, a cidade será uma mulher mais bonita ou mais feia do que eu. Mas uma mulher que terá sempre qualquer coisa para me dar ou proporcionar com alguém, seja melancolia, scones ou beijos quentes no banco à beira do rio.
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